O cardápio musical

O professor Dr. Evan Feldman no curso Fundamentals of Rehearsing Music Ensembles da University of North Carolina at Chapel Hill (disponível online no site Coursera) traz algumas dicas importantes na hora de montar o programa para um concerto. O curso em questão é dirigido a regentes, mas podemos tirar ótimas dicas na hora de montar o repertório para um concerto, seja ele solo ou música de câmara.

Inicialmente ele fala da importância de balancear: peças longas e curtas, peças difíceis e fáceis, peças com vários movimentos e peças de um movimento só, peças contemporâneas e peças históricas, peças familiares à audiência e músicos e peças não familiares à audiência e músicos.

Dr. Feldman salienta que é importante ter uma noção do que é qualidade (e cada um pode ter sua própria visão sobre isso), para não sair simplesmente escolhendo músicas ao acaso.

Ele cita o professor e regente Tõnu Kalam quando fala sobre o cardápio musical. Assim como numa refeição, seria estranhíssimo começar com um sorvete, seguido de uma carne, logo após uma salada e um fettuccine para finalizar. Na hora de preparar nosso repertório devemos seguir uma lógica parecida. Ainda que todas as peças (ou refeições) sejam maravilhosas, pode haver uma certa estranheza (ou indigestão) se elas não forem bem encaixadas ou combinadas entre si. (O termo culinário é "harmonizadas", mas pensei e repensei muito e achei melhor não confundir os desavisados, e deixei apenas entre parênteses mesmo).

Um exemplo de um "cardápio" mal pensado seria começar o programa com uma sinfonia longa e pesada, seguida de uma peça lenta e expressiva de 20 minutos, uma marcha de um minuto de duração, seguida de outra sinfonia de 20 minutos. Podem ser todas peças maravilhosas, mas provavelmente nessa ordem não vai fluir muito bem para o público.

Não é que devamos seguir alguma fórmula específica, pode existir uma certa combinação de sabores (até mesmo exótica), mas devemos passar na cabeça e até mesmo escutar como soará para o público por exemplo, tocar uma peça com um final forte e logo após iniciar outra peça que também começa forte. Gostamos do senso de continuidade? Ou será que é energia demais? Da mesma forma, se terminamos uma peça de 20 minutos de adagio e iniciamos outra com mais 20 minutos de adagio, será que funciona?

Dica: use seus colegas. Não há necessidade de reinventar a roda cada vez que for montar um programa. Peça sugestões, baseando-se no nível técnico do grupo (ou no seu próprio), ou pergunte a um colega o que tocar antes ou depois de tal ou qual peça que talvez ele já tenha tocado. Mesmo que você não use a ideia, pode ser um pontapé inicial para você mesmo encontrar o que precisa. A internet está aí também e você pode procurar programas de outros músicos para ver quais peças e em que ordem foram usadas, juntamente com aquela que você certamente irá tocar.

Montar um programa deve ser algo muito bem pensado, refinado e experimentado, até que se consiga um cardápio musical que satisfaça do início ao fim.

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