Inteligências múltiplas e imagens musicais

No curso Fundamentals of Rehearsing Music Ensembles da University of North Carolina at Chapel Hill disponível online no site Coursera), o professor Dr. Evan Feldman salienta a importância de utilizar termos variados ao ensaiar um grupo ou orquestra.

Dizer "mais staccato" e repetir a mesma frase inúmeras vezes tende a ser infrutífero, já que depois de um tempo, de tanto ouvir a mesma coisa, o grupo tende a ignorar o maestro. Por isso a importância de ter um vocabulário amplo para pedir uma mesma coisa. "Tá-tá-tá", "gotas de chuva caindo" ou outras imagens podem ajudar a obter o resultado desejado (nesse caso, o staccato), especialmente quando se trata de grupos amadores ou de estudantes. 

Ele diz que isto acontece por causa da existência de inteligências múltiplas. Alguns, só de ouvir o maestro cantando, podem reproduzir perfeitamente. Outros podem ter mais sucesso com a utilização de alguma imagem, algo que lhes faça entender a ideia por trás do pedido (coisas como "uma grande tempestade", "uma brisa suave", etc.). Assim, ao utilizar termos variados para um mesmo resultado desejado, é possível conseguir que o grupo todo entenda o que se espera em determinada passagem.

Fiquei pensando em meus aluninhos de harpa e a utilização de imagens musicais. Para eles, que muitas vezes são tão novos que nem sabem o que significam certas palavras, sejam elas do vocabulário musical ou não, a utilização de imagens tem ajudado muito. Nesse particular agradeço imensamente a ajuda de Gianetta Baril, quem me orientou nas etapas iniciais do curso de harpa do PIM em Vassouras.

Asa de frango, mão de limão, tampinha de caneta, braço de marionete, carinho no gato e rampa de skate são alguns do termos que utilizo atualmente e que tem, em geral, grande eficácia, especialmente com as crianças mais novas. São termos relacionados com a posição das mãos nas cordas, ou do movimento dos braços e mãos ao tocar. Funcionam instantaneamente, desde a primeira vez que utilizo o termo, ou depois de um tempo, quando a criança associa o termo com o movimento/posição. Quando eu digo "cadê a rampa de skate?", rapidamente elas se lembram de subir o polegar e mantê-lo afastado do indicador, girando a mão levemente para o lado.

No caso de crianças talvez a utilização de imagens tenha uma importância muito maior que para adultos. Muitas vezes tentei explicar que elas não deviam puxar a corda com força, que deveriam apenas pressioná-la e soltá-la, mas apenas quando eu disse "é como fazer um carinho no gatinho", quase que milagrosamente o resultado desejado apareceu.

Algumas imagens no entanto não funcionam muito bem. A imagem "arco e flecha", que para mim é tão clara e eficaz, não teve muito efeito para elas, talvez porque para elas um arco e uma flecha não signifiquem muita coisa. 

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