Piano x Harpa

Alô, pessoal! Há quanto tempo eu não escrevo aqui mais do que duas linhas, não é?

Pois bem, hoje senti vontade de comentar um pouco sobre algo que li no livro How to Play the Harp por Melville Clark. O livro, de 1932, pretendia ensinar a tocar harpa com a ajuda de fotos, sem a necessidade de um professor. Apesar de ser um livro com um pensamento bem antigo, eu gosto muito dos exercícios (particularmente alguns voltados para a independência dos dedos) e do cuidado do autor, sempre relembrando coisas como "feche os dedos", "polegar levantado", "relaxe os músculos", "toque no centro das cordas", etc, etc.. Para quem tiver interesse, é possível comprá-lo pela Amazon.com.

Então vou copiar aqui, com tradução minha, parte da Introdução, na qual o autor compara a harpa e o piano.

"Se você tiver estudado algum outro instrumento, particularmente o piano, você vai achar a harpa muito parecida, já que a música é a mesma, só que mais fácil [grifo meu].

Uma comparação da técnica de tocar piano com a da harpa  vai provar a simplicidade desta última.

No Piano:

Há treze dedilhados de escalas para serem aprendidos.
O dedo mínimo é o mais difícil de treinar.
As mãos tocam em direções opostas.
Os sustenidos e bemóis na armadura de uma música devem ser tocados o tempo todo.
Você só pode se aproximar do teclado do piano por um lado.
Grande preparo físico é necessário.
O nível musical estabelecido pelos grandes pianistas é atualmente dos mais altos.

Na Harpa:

Há apenas alguns dedilhados para todas as escalas.
O dedo mínimo não é usado.
As mãos tocam paralelamente.
O tom é fixado pelos pedais ou pelas chaves, e a música é então tocada como se tivesse sido escrita com apenas notas naturais.
Você se aproxima das cordas da harpa pelos dois lados. Dessa forma, tocar escalas e arpejos é muito mais simples.
O preparo físico necessário para o piano não é exigido, porque você toca a Harpa em uma postura natural e de certa forma relaxada.
O nível musical para tocar Harpa está atualmente sendo formado e há poucos críticos. Mesmo as melodias de um iniciante são apreciadas."

Antes de mais nada, harpistas, não me matem. Eu não concordo com isso. Eu copiei aqui porque achei muito bizarro, muito sem sentido e muito loucas essas afirmações.

Em primeiro lugar, só uma pessoa muito doida pode dizer que harpa é mais fácil que piano. Não é muito ético talvez, ficar fazendo comparação de qual instrumento é mais fácil ou difícil, mas vamos ser sinceros que não dá para dizer que harpa é fácil (e se tem alguém acompanhando o blog desde o começo, vai perceber que eu andei mudando minha forma de pensar...). E eu nunca ouvi ninguém dizer que o piano seja um intrumento difícil, ou mesmo "o mais difícil", como se ouve por aí sobre a harpa. Eu não acho bonito ficar por aí dizendo que os harpistas tocam o instrumento mais difícil do mundo, mas temos que ser justos com todos aqueles que passam horas por dia tentando domar um instrumento, vendo os anos passarem com um progresso lento e árduo.

Em segundo lugar, algumas informações realmente procedem: em qualquer tom, qualquer escala terá sempre os mesmos dedilhados e isso facilita bastante. E isso se expande para o tom, como afirmado pelo autor. Quando se toca uma música de complexidade menor, é possível inclusive esquecer em que tom se está, simplesmente preparar as chaves ou pedais e trocá-los quando necessário, mas sem necessariamente estar lembrando ou sabendo em que tom se está ou para onde se está indo. Obviamente, quanto maior o conhecimento musical, melhor será a execução da música, mas não precisamos estar o tempo todo lembrando a escala, como tantos outros instrumentos precisam. 

É, realmente não usamos o dedo mínimo, mas precisamos fazer milagres com acordes de dez notas ou trechos muito rápidos. Temos dois dedos a menos.

Sinceramente não entendi o que ele quis dizer com mãos tocando em direção oposta ou paralelamente... Acho que nos dois instrumentos as duas coisas acontecem... Não, acho que não captei o que ele quis dizer.

Concordo que poder tocar dos dois lados facilita na hora de fazer arpejos e escalas. Acho que também é mais "anatômico" tocar as duas mãos no agudo ou no grave.

Essa história de preparo físico não tem nada a ver. Muita gente sente muita dor nas costas tocando harpa, e acredito que no piano também, afinal são horas sentado num banco em uma postura que em nenhum dos dois casos é natural ou totalmente relaxada. Pelo menos no piano há uma menor tendência a se curvar para o lado esquerdo.

É verdade que o nível dos pianistas é dos mais elevados. É verdade também que uma melodia simples na harpa já é encantadora. E acho que há poucos críticos de harpa mesmo.

O Sr. Clark não se lembrou de mencionar que as cordas da harpa, ao serem tocadas, por estarem vibrando, "desaparecem" por algum tempo, o que dificulta sua visualização, especialmente se precisamos tocá-la logo em seguida ou alguma de suas visinhas.

Além disso, a precisão necessária para se tocar cordas é muito maior do que para se tocar teclas. A possibilidade de fazer ruídos com unhas ou má colocação de dedos é maior.

Outro probleminha que temos é que precisamos coordenar duas mãos e dois pés, que trabalham muito mais que os pés dos pianistas. E se o pianista errar uma nota, ele sempre sabe onde estão as outras. Se um harpista errar um pedal, pode não saber qual foi o pedal errado, afinal ele não pode olhá-los. E apesar de tocar a corda certa, estará soando a nota errada. E diga-se de passagem, esse é nosso maior pesadelo.

Ah, são tantas coisas... Eu realmente fiquei indignada ao ler isso, e imaginei a indignação de meus colegas harpistas se o lessem também. Tenho certeza que há muitas coisas que eu não me lembrei de mencionar e outras que talvez eu nem tenha me dado conta até agora.

Bom, eu acho que na verdade, comparar quaisquer instrumentos é uma coisa meio sem sentido e devemos perdoar o Sr. Clark, porque em 1932 as coisas deviam ser diferentes. Além disso, acredito que suas intenções eram das melhores: ele queria popularizar o instrumento (e 80 anos depois a Rayana resolve arruinar seus planos.. ops!).

Acho que qualquer instrumento, para ser tocado em sua plenitude, necessita de horas diárias de estudo por anos a fio. Mas fiquei meio indignada com as afirmações e resolvi dar minha contribuição nessa história.

Comentários

  1. Oi, Rayana. Pela primeira vez vou postar algo no seu blog.
    Quando o autor diz que tocamos a harpa com as mãos paralelamente (quais as palavras originais dele?), enquanto que no piano as mãos tocam em direção opostas, acho que ele quis se referir à posição das mãos no instrumento. Por exemplo: a mão esquerda no piano tocará algo do grave para o agudo caminhando do dedo mínimo para o polegar, da esquerda para a direita, da mesma forma que o aumento progressivo das notas nas teclas, ao passo que a mão direita irá do polegar para o mínimo.
    Na harpa, ao contrário, nas duas mãos, a progressão do grave para o agudo será sempre do dedo anular para o polegar. E isso acontece, sem exceção, inclusive quando fazemos passagem de dedo em arpejos e escalas, porque é o recomeço da mesma lógica.
    Romero.

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    1. Ahh, com certeza, é isso mesmo. Já tinha pensado nisso, mas não associei ao que ele escreveu. Nesse caso, sim, acho que os harpistas saem em vantagem, hehe. Ele escreveu originalmente "The hands play in opposite directions" e "The hands play in parallel". Romero, apareça mais vezes! E obrigada por escrever. Bjos

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  2. Esse assunto é meio sem fim mesmo. Tenho certeza que um pianista poderia dar uma boa contribuição nessa história. Ou um pianista harpista, como nossa colega Talita Martins. Bom, mas o que eu andei pensando é que uma nota errada na harpa, por ser diatônica, não soa tão mal quanto uma nota errada no piano... a não ser que você troque pedais (ou chaves) errados, claro.

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  3. Bem, quero pedir desculpas, mas harpa é fácil sim. Difícil é tocar trompa, violino... vc já experimentou? Bjs. Vanja Ferreira.

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    1. Haha já experimentei violino Vanja! Não quero fazer apologia à dificuldade do instrumento, sempre detestei isso, mas achei tão estranhos esses comentários no livro que tive que discordar e escrever aqui. Bjos :)

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  4. Bom dia Amigo meu nome e Adriano Alves moro São Mateus não tenho nem uma experiência harpa e piano e meu sonho definha tocar na igreja.por favor me ajude Deus te pague obrigado fico grato bom dia

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    1. Oi Adriano! Tocar harpa é mesmo maravilhoso, espero que você tenha conseguido realizar o seu sonho. Não desista! Abraços

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  5. Adriano Alves meu wallpaper 11965522149 ok

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