Dificuldades musicais na Escócia

Algo que me fez não aproveitar como eu gostaria o festival na Escócia (EIHF 2013) foi justamente o fato de ter tentado aproveitá-lo ao máximo.

Explico: eu me inscrevi para três cursos e diversos workshops. Isso significa que eu tinha uma aula das 9h às 11h30, outra das 13h às 14h30 e outra das 16h às 17h30 (ou algo não muito diferente disso). Os workshops aconteciam depois da aula da manhã e entre as aulas da tarde.

Se eu fosse de novo, me inscreveria em menos cursos e mais workshops. Workshops são palestras interessantíssimas sobre assuntos diversos mas nas quais não é exigido nada mais do que sua atenção ao palestrante, ou participação nas dinâmicas de grupo. Mas são palestras que acontecem naquele momento e só, não tem uma continuidade.

Os cursos, por outro lado, acontecem todos os dias, são práticos e exigem comprometimento: estudar depois da aula e apresentar resultado no dia seguinte. Como a harpa céltica é usada geralmente para tocar músicas folclóricas/populares, a abordagem nos cursos também era popular, o que me pegou de surpresa! Uma das professoras, Michelle Mulcahy, não usava nem partitura! A gente tinha que aprender de ouvido mesmo e lembrar no dia seguinte. Pra quem, como eu, está acostumado com a colinha da partitura, era um grande esforço que eu fazia com muita dificuldade. O grande problema não era descobrir as notas que ela estava tocando, até porque isso a professora ajudava, mas lembrar toda a sequência! Sem um gravador para ouvir depois (que se eu imaginasse tudo isso teria obviamente levado) e sem tempo para praticar, foi bem penoso. No final, quando já estávamos tocando a música, ela nos dava uma espécie de partitura, bem diferente de tudo o que eu já tinha visto, para ajudar a lembrar. Tenho elas aqui, mas tenho que tentar qualquer dia decifrá-las, para não sentir que perdi o que eu aprendi lá... Tentei pedir gravações para minhas colegas, mas parece que eu não fui a única que não gravei!

Então, a dica para o seu próximo festival: leve um gravador!!

Um exemplo daquela escrita musical: A-B  CD' | E'A'   E' - | D'B G'B | AB  GB | etc. Não consegui transcrever exatamente como é porque tem vários tracinhos pra cima e pra baixo com outras letras e sinais (com informações sobre o baixo também). Pelo que me lembro, as letras são as notas (D significando ré, E significando mi, etc.), as barras dividem os compassos, esses tracinhos em cima significam que é a nota aguda (por exemplo E é o mi central, mas E' é o mi uma oitava acima) e não me lembro muito mais. 

Se eu tivesse tido tempo lá, teria me esforçado para memorizar as músicas, entender a escrita e claro, teria gravado tudo. Fica aí como experiência e que da próxima vez, estejamos mais preparados!

Com certeza, muito diferente de todos os festivais de música erudita que eu já tinha participado aqui no Brasil.

A professora Fiona Rutherford era um pouco menos "popular" que a Michelle, e nos dava as partituras mesmo durante as aulas. Eu tentava fazer um esforço para aprender de ouvido, porque na verdade eu não tinha ido para a Escócia para aprender músicas novas, não é mesmo? Isso eu posso fazer aqui. Então, eu tinha que aprender algo novo e o que eu aprendi foi que tocar música de ouvido exige outro tipo de aprendizado.

Algo que eu sentia muita dificuldade era a língua. Ok, falar inglês é uma coisa, outra é ficar dias falando apenas em inglês e ainda mais um sotaque novo para mim que era o escocês, assistindo palestras e aulas, foi bem difícil! E levando-se em consideração a dificuldade nas aulas que eu já mencionei, minha dificuldade para memorizar as músicas e ainda ter que traduzir mentalmente as notas: C, D, E, F, G, A, B para dó, ré, mi, fá, sol, lá, si e depois disso encontrá-las na harpa, tudo isso no menor espaço de tempo possível....!! Ah, e ainda tem a "pegadinha" que meu cérebro tinha que se esforçar para não cair: o C pronuncia-se "si" em inglês, mas não é a nota si, é o dó! E os britânicos pronunciam A (ei) muito próximo de E (i), o que também gerava confusão para mim...  "Ofuf" como dizem os espanhóis, não foi fácil.

Se você nem entendeu o que eu quis dizer com tudo isso, imagine eu lá. Nos primeiros dias às 16h eu já estava morrendo de dor de cabeça. Mas depois fiquei bem. Não tem nada na vida que seja tão difícil que não se possa aprender. E com certeza, valeu muito a pena! Adorei o festival e toda essa vivência. E que venham outros!!

Comentários

  1. Olá Rayna!

    Posso imaginar tudo isso que você relatou, mas deve ter sido uma experiência e tanto... Obrigado pelas dicas, pois pretendo em breve passar um tempo na Escócia ou na Irlanda, não sei se propriamente participando de um festival, mas talvez vivenciando a harpa céltica de maneira mais informal. Mas qual o nome desse festival na Escócia? Abraços e espero que você esteja bem,! NANDO

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    1. Nando!!! Primeiro de tudo, obrigada pela visita :) Eu participei do Edinburgh International Harp Festival. Fiz mais duas postagens sobre ele aqui no blog: http://harpaemusica.blogspot.com.br/2013/04/uma-brasileira-na-escocia.html e http://harpaemusica.blogspot.com.br/2014/02/scottish-storytelling.html
      Aproveite sua viagem à Escócia ou Irlanda, depois conte como foi!! Em abril acontece o EIHF na Escócia e em junho/julho tem o Cairde Na Cruite na Irlanda. Tente descobrir onde acontecem sessions, com certeza você vai amar!! E se você gosta de dançar, procure algum lugar que tenha céilidh, é muito divertido!!! Abraços

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  2. Tem coisas que só se podem vivenciar no exterior. Parabéns!

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  3. Ola Rayana tudo bom?!
    Que bacana essa experiencia! Imagino o quao confuso deve ter sido no inicio, mas no final a satisfaçao deve ter sido bem maior que qualquer dificuldade.
    Parabens!

    PS: esse festival é voltado apenas para harpa Celtica, ou havia alguma coisa voltada à harpa sinfonica?
    Bjs

    Barbara Lourenco.

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    1. Olá Bárbara!!

      Seja bem vinda ao blog!!

      Foi com certeza uma experiência maravilhosa e valeu muito a pena!! Adorei tudo o que vi, ouvi, aprendi, pessoas que conheci, costumes, comida, tudo!! Esse festival tinha alguma coisa de harpa de pedais, mas era mais voltado pra harpa céltica mesmo. Eu mesma não fiz nenhum curso de harpa sinfônica, todos os que fiz e palestras que assisti, foram sobre a harpa céltica. Na verdade era esse o meu maior interesse mesmo, já que aqui no Brasil existem vários festivais de música que têm aulas de harpa de concerto, mas nenhum com a harpa celta!!

      Um grande abraço, Rayana

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