Desabafo - Parte IV

Segundo obstáculo - Falta de Suporte (parte I)

Sinto que, de certa forma, na Escola de Música da UFRJ os harpistas ficam meio "jogados", como se fôssemos "café-com-leite", especialmente na prática de orquestra. É meio assim: toquem, de preferência, ou não toquem, não importa, não precisamos de vocês... (ou é mais ou menos isso que os regentes pensam do naipe de harpas).

Vou tentar explicar. O naipe de contrabaixos por exemplo, ou oboé, ou sei lá mais o quê... Devido ao número reduzido de alunos e a inexperiência deles, alguns profissionais são contratados para preencher o naipe. Assim, o aluno pode contar com o apoio de um profissional para orientá-lo, ou no mínimo, tranquilizá-lo, porque ele sabe que, se falhar, há outra pessoa ali.

E com a harpa? Não, com a harpa não. Os alunos que se virem e se resolvam. No ano passado tivemos que tocar peças dificílimas, de nível profissional (pelo menos a parte da harpa - e isso não sou eu que estou falando, foram as professoras de harpa), com apoio chegando perto de zero.

Para não dizer que foi zero, vou relatar aqui duas grandes ajudas que tivemos: o regente convidado Helder Trefzger (da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo) foi superpaciente e atencioso comigo e com o Joseleno. Marcou ensaios extras com as harpas, ficou até mais tarde para ensaiar com a harpa e o órgão. Enfim, ele foi incansável e eu realmente o admiro por isso. Não foi à toa que essa foi a minha melhor (ou talvez a única boa) experiência com orquestra.

Pena, ele era um regente convidado...

A outra ajuda veio por parte de um dos alunos de regência, o Marcel, que também se esforçou para marcar alguns ensaios extras com a harpa. Dessa vez eu não estava tocando, mas sei que ajudou muito ao Joseleno.

Por que eu não estava tocando? Porque eu me recusei. Eu sabia que aquilo ia tomar meu tempo, ia gerar stress e o retorno seria muito pequeno ou até negativo. Não adianta pedir de um estudante do primeiro ano algo que ele só seria capaz de fazer em 5 ou 10 anos. Isso só gera frustrações.

Estive presente quando um aluno de harpa fez uma pergunta ao maestro sobre a questão do tempo e a resposta foi muito cínica (do tipo, "como assim você não sabe?") e umas risadas de toda a banda de sopros. E alguns alunos já vieram comentar conosco que não entendem como não entendemos a regência.

Talvez porque nunca fomos orientados sobre isso. Talvez porque caímos de paraquedas e esperam de nós o mesmo dos alunos de sopros que desde antes da faculdade já estavam tocando em bandas ou orquestra. Talvez porque ninguém nunca parou para pensar que uma pessoa que nunca tocou numa orquestra simplesmente não sabe entender os movimentos na mão do maestro. Não sabe!! Não adianta, pode ser que demore meia hora para explicar, mas se ninguém se der ao luxo de gastar essa meia hora para nos explicar, vamos continuar sem saber!!!! E se querem que aprendamos na prática, por favor, coloquem um harpista profissional do nosso lado pra nos ajudar, porque seria mil vezes mais simples e produtivo.

Se não fosse a experiência com o maestro Helder Trefzger, eu sinceramente estaria me sentindo totalmente inapta para orquestra. Felizmente eu sei que o problema não sou eu.

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